sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A notícia

Ontem voltei de Itapema e contei ao Vicente o que aconteceu com a vó Mariazinha. Não imaginamos a reação dele. Primeiro, me olhou com olhos arregalados quando eu disse que ela não tinha melhorado da doença que tinha e que por isso tinha ido para o céu, se tornado um anjo. Os olhos me olharam arregalados, como que conferindo a minha expressão para ver se eu estava falando sério. Continuou brincando e em seguida me disse disse que queria visitar a vó e o vô. Respondi que ele poderia visitar o vô sempre, pois com ele continuava tudo igual. Mudamos de assunto e um tempo depois ele retomou. Enfático, disse "Ah não, eu não quero ficar a minha vida inteira sem ver a vó!". Se eu tivesse escolha, meu filho, diria que eu também não... Hoje pela manhã, ele pegou o meu celular e ficou fuçando. Depois de um tempo me perguntou se eu não tinha o telefone da vó, pois ele já havia procurado em todo o M e não tinha encontrado. No meu íntimo, senti que ele queria testar para ver quem atenderia. Respondi que o número é o mesmo do vô e que está na agenda com o nome "pai", que ele poderia ligar para falar com o vô sempre que quisesse. Agora à tarde, o Enzo, nosso vizinho, estava aqui brincando com ele e deu-se um diálogo doloroso, que em outra situação seria até engraçado:
Vi: Sabia que minha vó morreu segunda passada?
Enzo: Ah é? A minha ainda está viva.
Vi: Quantos anos ela tem? A minha tinha menos de 80.
Enzo: Sei lá, só sei que ela já tem cabelo branco.
Ele está se familiarizando aos poucos com essa nova situação, mas acho que está sofrendo. Faz perguntas de tempo em tempo e demonstra querer compreender o que mudará afinal. Já expliquei que a casa dela continuará lá, com o vô, que continuaremos indo nos verões, que a praia continuará igual, que os primos também. A diferença vai ser só uma. E bem significativa.
Não sei se falamos ou estamos conduzindo a coisa do jeito certo, mas eu e o Fá achamos que a honestidade seria a melhor solução. E vamos em frente.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Nos separamos da mãe, da vó, da amiga, da escritora e de tantas outras denominações tão ou mais nobres com as quais poderíamos chamar a Dona Mariazinha.

Um Natal triste. O primeiro Natal triste da minha vida. Talvez esse seja o primeiro post triste desse blog. Vicente teve uma meningite viral que começou na terça-feira, dia 20 de dezembro, aniversário da Martina. A doença impediu que ele aproveitasse a festa linda que eu e o Fábio, com todo o amor organizamos para os dois. Também impediu nossa planejada viagem à Itapema para passar o Natal. Mas ele ficou bem. Saiu do hospital no dia 23 e seguiu seu tratamento em casa. No dia 24 pela manhã, recebi uma ligação do meu irmão querido, o Maurício. Feliz, contei que o Vi já estava bem, e foi então que ele me disse que não tinha notícias tão boas assim. A mãe havia tido um AVC e estava hospitalizada. Não falava e não movimentava o lado direito do corpo. A voz trêmula do Maurício, apesar da sua tentativa em me tranquilizar, me deixou apavorada. Desliguei o telefone e chorei. Muito. Até que a Martina percebeu e então reagiu com um choro tão assustado quanto o meu. O Vicente ouviu o meu relato para o Fábio e, silencioso, continuou sua brincadeira distraída sem manifestar sua apreensão.

A tarde passou com inúmeros telefonemas. O diagnóstico era um AVC esquêmico, o que poderia ser tratado sem cirurgia. Uma notícia boa e uma esperança de recuperação completa, sem sequelas. Sequelas essas que nenhum de nós considerava aceitável. Nossa mãe, única, não merecia. Ao colocar o Vicente para dormir naquela tarde, em meio a uma dor de cabeça forte em função da doença, ele me perguntou o que eu queria dizer com a vó Mariazinha estar paralisada do lado direito. O silêncio de até então, era pura apreensão. Talvez medo.

Naquela noite, véspera de Natal, enquanto eu e o Fábio preparávamos a nossa ceia, entre apreensão e esperança, uma ligação para o Maurício nos deu alguma serenidade para celebrarmos a data tão especial, se não a mais especial para a nossa mãe querida. Ela estava consciente e reagindo. Maurício havia conversado no hospital e ela respondia apertando sua mão, usando a mão esquerda, e chegara a lacrimejar.

Na manhã de domingo, dia 25, novas notícias e novamente a apreensão. A mãe respirava com a ajuda de aparelhos e o quadro novamente se agravava. À tarde soubemos que ela estava em coma e não tinha mais os sinais vitais. Meu irmão Rubem, o Toto, e a Regi, foram até Porto Alegre para conversarmos, já que éramos os únicos que não estávamos em Itapema. Entre angústia, lágrimas, abraços e muito, muito medo, combinamos que estaríamos em Itapema no dia seguinte. O Toto saiu de madrugada, de carro, e eu viagei de avião, pois o Vi tinha uma consulta com o neurologista no início da manhã.

Nossa chegada não foi festiva como em tantas outras vezes. Meu pai amado estava sentado na varanda, junto com os meus irmãos. Não se levantou para me receber no portão, como sempre fez, e isso me deu uma ideia de como deveria estar seu coração. Ele, aos 77 anos, recebera a notícia de que a mulher com quem se casara 54 anos antes, com quem construíra uma vida, uma família linda, com 7 filhos, 15 netos e 2 bisnetos, estava em uma situação muito complicada de saúde.

Por volta de 14h30, eu, o Toto e o Maurício, fomos ao Hospital do Coração, em Balneário Camboriú, onde a mãe estava internada e onde a visitaríamos na UTI às 16h. Chegamos às 15h15 e sentamos na sala de espera. Uma porta nos separava daquela que, naquele momento, mais queríamos abraçar. Esperamos conversando, às vezes alto demais. Às vezes lacrimejando, às vezes rindo de algum brincadeira entre nós e às vezes em silêncio. Alguns minutos antes das 16h, uma enfermeira nos chamou. Andando meio enfileirados, eu por último, talvez para me proteger do que eu já imaginava que pudesse acontecer, ouvi o Maurício perguntar com a voz trêmula, se estavam abrindo para as visitas um pouco mais cedo. Ao que a enfermeira respondeu que não.

Entramos na sala onde geralmente eram dados os boletins dos pacientes. Um médico jovem, de olhos azuis, nos esperava. Com muita delicadeza e objetividade, ele confirmou que éramos os familiares da Dona Maria e fez um breve resumo do seu histórico desde a entrada, que eu reproduzo aqui, nas palavras que consigo me recordar: "A Dona Maria deu entrada na UTI no sábado pela manhã, com um quadro de AVC esquêmico, que foi se agravando na madrugada de domingo, quando ela entrou em coma e ao longo do domingo não demonstrou sinais vitais, mantendo esse quadro. Agora há pouco, ela teve uma parada cardíaca e veio a falecer".

Vazio.

Maurício pergunta se faz muito tempo, ao que houve que foi há minutos, que o óbito acabou de ser atestado. Choramos. Nos abraçamos. Percebo que eles estão preocupados comigo. Me amparam e me arrastam para o elevador. Saímos pela porta da frente. Pego o telefone e ligo para o Fábio. Maurício liga para a Grazi ou a Deti, não sei bem. Alguém tem que avisar o pai. O Toto liga para o Rafa e o Guigo, ambos longe. E choramos.

Uma tristeza tão grande. Uma pena muito grande de mim mesma. Maior ainda dos meus filhos que conviveram tão pouco com essa avó linda que eles tiveram. Uma artista, uma educadora, uma mulher além da nossa compreensão, com uma capacidade de amar e se doar que muito poucas pessoas têm.

Escrevo esse post no computador dela, no escritório dela, na casa dela e na cidade que ela escolheu para viver os seus últimos 13 ou 14 anos, não tenho certeza. Ao meu redor, seus escritos, suas caixas, sua máquina de costura, seu pequeno altar com fotos das tias Ruth e Thêmis, irmãs que se foram há alguns anos, sua letra em vários papeis, uma foto dela e o marido que tanto amou abraçados, e inúmeros outros sinais da sua presença recente. Já é madrugada do dia 29. Ontem, dia 28, era o aniversário do Vicente. 6 anos. Também era o aniversário de casamento de Alceu e Mariazinha. 54 anos. Mais dois de namoro, como reiterou o pai para mim. 56 ao todo.

É muito difícil.

A Regi encontrou hoje, um diário iniciado em 58, quando o Toto nasceu. Terminei de ler há pouco, antes de me sentar aqui para escrever. O diário relata o início da nossa família, do nascimento do Toto em 58 ao meu em 76. Relata os medos, as alegrias, as dificuldades e as conquistas do jovem casal que construía a sua vida a partir de uma amor sólido, de valores absolutos, de planos, desejos e uma vontade de ser feliz que me dá um orgulho imenso por ter tido a oportunidade de nascer nessa família. E sobretudo, o diário relata a fé e a confiança da mãe em Deus. Um Deus que certamente a está acolhendo de forma muito especial e saberá como ninguém cuidar e proteger essa filha tão amada por mim, pelos meus irmãos, pelo seu esposo, pelos netos e bisnetos, pelos pais, sogros, irmãos, cunhados, pelos amigos, pelos colegas professores, pelos colegas escritores, pelas pessoas às quais ela dedicou seu carinho em trabalhos sociais, pelas meninas às quais ela ensinava dança e por todos aqueles que tiveram uma oportunidade de conviver com a Dona Mariazinha.

Mãe, eu te amo para sempre.

Tani

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Formatura do Vicente


Segunda-feira, dia 12, foi a formatura de pré-escola do Vi. Foi muito linda. Teve um musical, onde ele interpretou um peixe, diploma e homenagem dos pais, cantando uma música para as crianças. Muito emocionante mesmo.

Aí em cima tem uma fotinho do nosso peixinho e no link http://vimeo.com/33723724 vocês podem ver um vídeo que o Fábio editou com alguns trechos da formatura.